A primeira explicação que atribuímos ao que hoje chamamos de psicopatologia era a possessão por espíritos malignos e demónios. Muitos acreditavam que o comportamento bizarro associado à doença mental só podia ser um acto do próprio diabo. Á luz da época, muitas pessoas que sofriam de doenças mentais foram torturadas numa tentativa de “expulsar o demónio” de dentro delas. Todos nós já ouvimos falar dos Autos-de-Fé e do Santo-Oficio onde muitas individualidades, consideradas bruxas e feiticeiras, foram brutalmente assassinadas e torturadas. Quando os métodos de tortura não conseguiam fazer com que aquilo que se considerava sanidade voltasse á pessoa, em geral, eram considerados possuído e posteriormente seriam executados.
Auto de Fé, Francisco Ricci(1683) |
A partir do Séc. XVIII, a doença mental começou a ser vista numa perspectiva bastante diferente, a "loucura” começou a ser vista como uma doença, ao invés da possessão demoníaca ou pactos com Belzebu.
Hoje, o modelo médico continua a ser uma força motriz no diagnóstico e tratamento da psicopatologia, embora as pesquisas demonstrarem os efeitos poderosos que a Psicologia tem sobre o comportamento de uma pessoa, quer ao nível emoção quer ao nível da cognição.
A doença mental pode ter um efeito devastador sobre um indivíduo, sobre a sua família e amigos, sobre o grupo social no qual este está integrado.
Como é isso pode afectar o individuo portador de uma psicopatologia?
- Emoções e pensamentos de carácter repressivo, depressivo e distorcido
- Comportamento inapropriado
- Redução da capacidade de manter/estabelecer relações
- Etc
Estes são os efeitos mais óbvios de doença mental, mas há efeitos menos óbvios, devido à má interpretação dos doentes mentais. Não há muito tempo atrás, quando as pessoas ouviram o termo doentes mentais pela primeira vez, o primeiro pensamento que surgiu foi o dos casos graves, indivíduos com comportamentos totalmente desajustados, violentos e uma enorme falta de cuidar de si e do mundo. Nesse sentido, as pessoas portadoras de uma doença mental eram quase desumanizadas. Eles foram evitados e alienados.
Felizmente isso está a mudar, a sociedade entende que a doença mental afecta muitas pessoas, e de muitas maneiras diferentes. Nós, como sociedade, estamos a começar a ver que depressão não significa fraqueza, que a ansiedade não significa medo, e que a esquizofrenia não significa violência. Nós estamos finalmente a assimilar que precisar de ajuda por razões mentais ou emocionais não é por falta de carácter ou por falha de algo na formação/integração da pessoa e na formação da sua personalidade.
Apesar de estarmos nos estágios iniciais deste esclarecimento, muitos de nós continuam a estereotipar a população com psicopatologias.
Imaginemos que somos rotulados como fracos, medrosos, violentos, ou com “tolinhos” (na linguagem popular). O que isso representaria para a nossa auto-estima? Apesar de nem todos reagirem da mesma forma, podemos concluir que não seria algo de positivo.
Estas crenças erradas podem chegar a atingir o indivíduo que sofre destas patologias e provocar uma mudança drástica no seu sistema de crenças. Podem fazer com que ele começa a dizer a si mesmo: "Toda a gente não pode estar errada, eu devo ser uma pessoa péssima por deixar isto avante." Os resultados são uma profunda depressão, aumento da ansiedade, baixa auto-estima e isolamento, sendo estes os principais efeitos.
Pior que isto, devido ao estigma associado à doença mental, muitas pessoas não procuram ajuda. Isto é especialmente significativos em casos de transtornos emocionais e ao nível do humor, que ironicamente, tem opções de tratamento ou menorização de sintomas eficazes, nos dias de hoje.
Juntando tudo o que já foi referido, podemos inferir que as depressões aumentem e entrem numa ciclicidade e banalidade tal que não haverá possibilidade de retorno. “Eu sou uma pessoa fraca, sinto-me pior sobre mim mesmo e não posso procurar ajuda, porque eu irei ser ridicularizado, humilhado e envergonhado.”
Felizmente, políticos tornam-se mais conscientes das verdades sobre a doença mental, mais e mais amigos e familiares de doentes psicopatológicos tendem a dar a conhecer as suas realidades e demonstrar que o bicho papão da mente não é como o pintam; com isto, estes pensamentos estereotipados tendem a diminuir.
Nós temos ainda um longo caminho a percorrer, mas comparado com o tempo quando a doença mental era vista como possessão demoníaca, já chegamos a uma grande distância.
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