quinta-feira, 2 de junho de 2011

Memória


Nas aulas de Psicologia, temos estudado a “Memória”. Por isso, pesquisei, em revistas, artigos relacionados com o tema. Seleccionei dois artigos, que achei interessantes, “O CÃO QUE SE DEITA ONDE LHE APETECE” e “CULTURA DA AMNÉSIA” , ambos foram retirados da revista “notícias amazine”, do dia 16 de Agosto de 2009 e 18 de Outubro de 2009, respectivamente.
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“A ideia de que a nossa memória pode ter «vontade própria» é um pouco incómoda. Mas que outra explicação haverá para a selecção que ela faz dos acontecimentos da nossa vida que nos deixa ou não recordar?






O CÃO QUE SE DEITA ONDE LHE APETECE
A experiência, a experiência de nós próprios, ensina-nos muito menos do que desejaríamos.
Tomamos aqueles ditados que referem o «aprender com os próprios erros» como bons e tendemos a acreditar que vamos aprendendo o suficiente para não repetir disparates já cometidos; para não cairmos, incautos, num conto do vigário mais sofisticado ou numa canção do bandido mais rendilhada; para não ficarmos excessivamente desiludidos, frustrados ou doridos com situações que sabemos possíveis ou mesmo prováveis.
Esperamos que a experiência, medida em anos ou acontecimentos de vida, nos traga mais sabedoria e tranquilidade e menos expectativas irrealistas e perplexidades.
Vamos descobrindo, no entretanto, que não é bem assim. Que, afinal, aquela malfadada compulsão à repetição é mesmo capaz de ser mais do que um conceito útil para exprimir a nossa acintosa e típica forma de estar; que há sempre uma qualquer novidade desconhecida que espera por nós, pacientemente, e nos apanha distraídos; que quem acredita num destino traçado e determinista é capaz de ter as suas próprias razões e explicações.
Tudo isto como alternativa à nossa baixíssima capacidade de aprender o que devíamos e era suposto ser adquirido através da experiência, que é como quem diz, a sermos mesmo pouco inteligentes.
Há quem diga que o problema é daquela parte da memória onde se guardam as experiências pessoais, uma zona pomposamente chamada «memória autobiográfica». Uma memória traiçoeira, escorregadia, selectiva de umas tantas coisas e negligente de tantas outras que nos davam mais jeito e nos faziam mais felizes.
Continuamos a tentar perceber por que esquecemos o que não queríamos, por que gravamos, a fogo e em tempo real pormenores de anteriores infelicidades que, ainda por cima, emergem quando não devem para nos fazer sentir miseráveis.
Parece que mais grave do que as queixas de memórias invasivas ou de faltas de memória é a constatação de que, afinal, temos memória com vontade própria ou, como dizia Cees Nooteboom: «A recordação é como um cão que se deita onde lhe apetece»”           

Isabel Leal, Psicóloga
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“Vivemos um tempo em que tentamos fazer tábua rasa de tudo o que é recordação incómoda e que nos cause desconforto. E não apenas a nível individual, como também a nível colectivo – mas «apagar» a história, própria ou de todos, não é boa solução.




CULTURA DA AMNÉSIA
A nossa espantosa condição humana parece destinada a ter com os acontecimentos passados dois tipos muito diferentes de relação. Enquando ao nível das memórias autobiográficas, pormenores, sensações e tudo o mais que a subjectividade de cada um é capaz de aproveitar, se tende ao empolgamento, à hipercomplexidade e à grandiosidade, ao nível das memórias colectivas acontece o contrário. Aí, habitualmente, o movimento é em direcção à depuração, À linearidade e à simplificação. Quando não se chega mesmo ao esquecimento, conseguem-se maproximações espantosas, explicando aliás porque é tão difícil reter algo daquilo que a história do mundo era suposto ensinar-nos.
Há anos o Kundera escreveu algumas das mais inspiradas páginas sobre o exercício do esquecimento caro ao nosso tempo. Sobre as novas imagens que ofuscam as anteriores, sobre os mais recentes discursos que apagam os antecedentes, sobre, no fundo, a cultura da amnésia que invade a contemporaneidade.
Mesmo que os museus continuem de pé, mesmo que se desdobrem os centros de interpretação de eventos idos, mesmo que haja unidades curriculares destinadas ao ensino e aprendizagem da História, mesmo que estejam em moda romances, novelas, telenovelas, filmes e documentários que procuram reconstruir períodos específicos da vida humana em épocas diferentes, nada chega. Nada parece capaz de demover-nos desta autocentração que nos faz olhar o que acontece e o que aconteceu exterior aos nossos mais básicos interesses como histórias pouco importantes, ainda que eventualmente interessantes.
Aliás, se pudéssemos, se fosse uma mera questão de escolha, e de sofrer contusões para apagar uma e outra vez, desconfortos, incómodos e a própria identificação, seria de crer que haveria muito mais gente do que há a haver com a cabeça nas paredes.
Parece que a memória nos pesa e nos agride, que as recordações que retornam a bal-prazer são manifestações indesejáveis, excrescências do pensamento tão inestéticas como arrotos.
Se pudéssemos, teríamos um mecanismo de delete e veríamos sem passado numa imensa cultura da amnésia”
Isabel Leal, Psicóloga

Carla Ribeiro

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