segunda-feira, 6 de junho de 2011

A Experiência da Vela e o Papel das Motivações



Há um desencontro brutal entre aquilo que a ciência sabe e aquilo que é aplicado nas situações problemáticas de cariz mais complexo do dia-a-dia. Afinal, qual o papel das motivações no ser humano?
Em 1945, Karl Dunker, psicólogo, idealizou uma experiência bastante simples: era cedida uma vela, alguns pregos, uma caixa e fósforos a alguns indivíduos a quem era pedido que pregassem a vela na parede de modo a que a cera não caísse na mesa. 



Alguns indivíduos procuraram pregar directamente a vela na parede, outros optaram por tentar derreter uma extremidade da vela de modo a fazê-la aderir à parede (ambas as alternativas infrutíferas), sendo que só ao fim de algum tempo conseguiram efectivamente solucionar o problema, pregando a caixa dos pregos à parede e colocando a vela no seu interior.


O derradeiro desafio da experiência consiste em ultrapassar a chamada funcionalidade fixa, que neste caso consiste no facto da população em análise ver a caixa de pregos somente com a funcionalidade de armazenamento (de pregos), descurando eventuais possíveis funções do objecto.
Posteriormente, um proeminente cientista denominado Sam Glucksberg operou algumas alterações no protocolo experimental de Dunker para avaliar o papel das motivações na execução de tarefas. Glucksberg informou a população em estudo (dividida em 2 grupos) que iria cronometrar o tempo dispendido para solucionar o problema, advertindo um grupo que a cronometragem serviria exclusivamente para averiguar médias (de tempo), enquanto outro grupo foi informado que a regulação do tempo serviria para atribuir recompensas aos indivíduos que mais rapidamente encontrassem uma solução.
A experiência de Glucksberg demonstrou que os grupos motivados por recompensas demoravam em média mais 3,5 minutos que os demais.
Numa segunda variante do seu problema, Glucksberg apresentou a situação de um modo distinto: colocou os pregos fora da caixa. Desta monta feita, foi o grupo incentivado que obteve as melhores médias de tempo. Resta saber porquê. Em todo o caso a resposta é simples: os pregos estão fora da caixa!



Depreende-se então facilmente pela experiência de Glucksberg que as recompensas estreitam a nossa capacidade para resolver situações novas e imprevistas, em que existe uma apelo à imaginação e criatividade. Por outro lado, em tarefas centradas em objectivos simples, claramente definidos e onde há um conjunto de regras definidas para obter o desejado fim, as recompensas funcionam indubitavelmente como promotoras do bom trabalho.
Depreende-se então que motivações extrínsecas, em situações problemáticas novas, restringem as nossas possibilidades. Não obstante, em tarefas que exijam apenas habilidades mecânicas, as recompensas funcionam conforme o esperado: quanto maior a recompensa, maior a performance.
Em suma, conclui-se que é necessário reavaliar o nosso modelo económico e desvendar o nefasto papel das motivações extrínsecas. A derradeira produtividade só surge mediante o apelo de motivações intrínsecas centradas na autonomia (vontade de cada indivíduo em orientar a sua vida); domínio (desejo de melhorar constantemente algo que fazemos, gostámos e é importante) e propósito (desejo de fazer o que fazemos, servindo “algo maior que nós próprios”).
Mário

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